quinta-feira, 21 de abril de 2011
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Por: Agência Fapesp
De resíduos agroindustriais saem fibras que poderão dar
origem a uma nova geração de superplásticos.
Mais leves, resistentes e ecologicamente corretos do que
os polímeros convencionais utilizados industrialmente, as alternativas vêm
sendo pesquisadas pelo grupo coordenado pelo professor Alcides Lopes Leão na
Faculdade de Ciências Agronômicas da Universidade Estadual de São Paulo
(Unesp), em Botucatu.
Recentemente, o grupo brasileiro apresentou o trabalho
durante a reunião anual da Sociedade Norte-Americana de Química, mostrando que
os superplásticos podem ser fabricados
de vários tipos de frutas e plantas.
Bioplásticos
Obtidas de resíduos de cultivares como o curauá (Ananas
erectifolius) - planta amazônica da mesma família do abacaxi -, além da
banana, casca de coco, sisal, o próprio abacaxi, madeira e resíduos da
fabricação de celulose, as fibras naturais começaram a ser estudadas em escalas
de centímetros e milímetros pelo professor Lopes Leão e colegas no início da década
de 1990.
Ao testá-las nos últimos dois anos em escala nanométrica
(da bilionésima parte do metro), os pesquisadores descobriram que as fibras
apresentam resistência similar às fibras de carbono e de vidro. E, por isso,
podem substituí-las como matérias-primas para a fabricação de plásticos.
O resultado são materiais mais fortes e duráveis e com a
vantagem de, diferentemente dos plásticos convencionais originados do petróleo
e de gás natural, serem totalmente renováveis.
"As propriedades mecânicas dessas fibras em escala
nanométrica aumentam enormemente. A peça feita com esse tipo de material se
torna 30 vezes mais leve e entre três e quatro vezes mais resistente",
disse Lopes Leão.
Em testes realizados pelo grupo por meio de um acordo de
pesquisa com a Braskem, em que foi adicionado 0,2% de nanofibra ao
polipropileno fabricado pela empresa, o material apresentou aumento de
resistência de mais de 50%.
Carros verdes
Já em ensaios realizados com plástico injetável utilizado
na fabricação de pára-choques, painéis internos e laterais e protetor de cárter
de automóveis, em que foi adicionado entre 0,2% e 1,2% de nanofibras, as peças
apresentaram maior resistência e leveza do que as encontradas no mercado
atualmente, segundo o cientista.
"Em todas as peças utilizadas pela indústria
automobilística à base de polipropileno injetado nós substituímos a fibra de
vidro pela nanocelulose e obtivemos melhora das propriedades", afirmou.
Além do aumento na segurança, os plásticos feitos de
nanofibras possibilitam reduzir o peso do veículo e aumentar a economia de
combustível. Também apresentam maior resistência a danos causados pelo calor e
por derramamento de líquidos, como a gasolina.
"Por enquanto, estamos focando a aplicação das
nanofibras na substituição dos plásticos automotivos. Mas, no futuro, poderemos
substituir peças que hoje são feitas de aço ou alumínio por esses
materiais", disse Lopes Leão.
Por meio de um projeto apoiado por meio do Programa de
Apoio à Pesquisa em Parceria para Inovação Tecnológica (PITE) da FAPESP, a
fibra de curauá passou a ser utilizada no teto, na parte interna das portas e
na tampa de compartimento da bagagem dos automóveis Fox e Polo, fabricados pela
Volkswagen.
Outras indústrias automobilísticas já manifestaram
interesse pela tecnologia, segundo Lopes Leão. Entre elas está uma empresa
indiana, cujo nome não foi revelado, que tomou conhecimento da pesquisa após
ela ser apresentada na reunião da Sociedade Norte-Americana de Química, no
final do mês passado.
Nanofibra substitui titânio
Segundo o coordenador da pesquisa, além da indústria
automobilística as nanofibras podem ser aplicadas em outros setores, como o de
materiais médicos e odontológicos.
Em um projeto realizado em parceria com a Faculdade de
Odontologia da Unesp de Araraquara, os pesquisadores pretendem substituir o
titânio utilizado na fabricação de pinos metálicos para implantes dentários
pelas nanofibras.
Em outro projeto desenvolvido com a Faculdade de Medicina
Veterinária e Zootecnia da Unesp de Botucatu, o grupo utiliza as nanofibras
para desenvolver membranas de celulose bacteriana vegetal.
Em testes de biocompatibilidade in vivo, realizados com ratos,
os animais sobreviveram por seis meses com o material. "Nenhuma pesquisa
do tipo tinha conseguido atingir, até então, esse resultado", afirmou
Lopes Leão.
O grupo da Unesp também está estudando a utilização de
fibras naturais para o desenvolvimento de compósitos reforçados e para o
tratamento de águas poluídas por óleo.
Fibras de plantas
De acordo com o coordenador, entre as fibras de plantas,
as do abacaxi são as que apresentam maior resistência e vocação para serem
utilizadas na fabricação de bioplásticos.
Dos materiais, o mais promissor é o lodo da celulose de
papel, um resíduo do processo de fabricação que as indústrias costumam
descartar em enormes quantidades e com grandes custos financeiros e ambientais
em aterros sanitários.
Para utilizar esse resíduo como fonte de nanofibras,
Lopes Leão pretende iniciar um projeto de pesquisa com a fabricante de papel
Fibria em que o lodo da celulose produzido pela empresa seria transformado em
um produto comercial. "É muito mais simples extrair as nanofibras desse
material do que da madeira, porque ele já está limpo e tratado pelas fábricas
de papel", disse.
Para preparar as nanofibras, os cientistas desenvolveram
um método em que colocam as folhas e caules de abacaxi ou das demais plantas em
um equipamento parecido com uma panela de pressão.
O "molho" resultado dessa mistura é formado por
um conjunto de compostos químicos e o cozimento é feito em vários ciclos, até
produzir um material fino, parecido com o talco. Um quilograma do material pode
produzir 100 quilogramas de plásticos leves e super-reforçados.
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